A NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR
- psicovanessadealmeida

- 13 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
A constelação familiar do início do século XX difere bastante da nossa atual realidade do século XXI. Podemos pensar no homem do século passado como símbolo máximo da masculinidade, provedor da casa, forte e protetor.
A mulher como um ser frágil, quem cuidava dos afazeres domésticos bem como cuidava dos filhos. Papeis e funções bem definidos num contexto propício à estimulação de tal padrão. Com o nascimento da nova era, em que a informação é cada vez mais veloz, papeis e funções mudaram profundamente.
Atualmente, a estrutura das famílias, no que tange a seus componentes, mudou. Família, hoje em dia, não quer dizer mais apenas um homem, uma mulher e filhos. A constelação familiar se configura de diferentes formas: dois homens e filhos, duas mulheres e filha. Transexuais e filhos. Com ou sem filhos, família sendo entendida como um grupo de pessoas que compartilham um mesmo espaço podendo ou não ter algum laço sanguíneo é a nossa nova realidade. Mulher que trabalha enquanto o homem cuida dos filhos. O homem manicure e a mulher pedreira, motorista.
A nossa atualidade prega direitos iguais!
E, claro. Essa nova configuração dá o que falar.
Entendendo a família como um sistema inserido num macrossistema, ou seja, inserida em uma comunidade com a sua cultura, valores e crenças, esse grupo cria suas próprias regras sendo influenciada pelos fatores externos que não deixam de interferir em sua existência.
Ao mesmo tempo, essas novas formas de famílias ou constelações familiares são alvos de diversos tipos de preconceitos e estigmas engessados em valores e referências que resgatam bem a nossa história passada. O que se deve pensar é, como essas famílias poderão viver numa sociedade em que a tolerância ao diferente ou ao que não é habitual dita as regras do agir e pensar de forma a tentar excluir ou marginalizar o grupo incentivando ódio ou anormalidade sobre aqueles que vivem ou são criados por esse novo padrão? Por que tentar barrar o novo, a mudança?
O século XXI, dito a era da informação, da alta tecnologia, do poder, do consumo, do desejo, dita e arrasta a exclusão, a violência, a intolerância...
Papeis e funções.
Será possível criar seres humanos harmoniosos que respeitam o próximo e acolham o diferente?
Sistemicamente falando, o buraco é mais embaixo. Papel é abstrato. Função é ação. Acredito, enquanto pessoa e profissional, que as novas configurações familiares que estão aí e que vão surgir só podem viver numa sociedade sem preconceito quando o medo ou os conflitos atuais puderem ser ressignificados e entendidos como padrões disfuncionais aprendidos em gerações passadas e que não tiveram ainda a oportunidade de ser dado um novo sentido.
A coesão e diferenciação dos seres e consequentemente dos grupos devem ocorrer, porém de forma saudável, pois não adianta ter uma estrutura rígida e empobrecida, se não são adquiridas novas experiências e novas formas de viver e de pensar sobre o mundo. E o mais importante, de agir sobre ele.
Pode parecer que a atualidade trouxe certa desordem na configuração familiar, e, de fato, trouxe mesmo.
Qual mudança não provoca desordem? Mas quando menciono papel e função, não excluo hierarquia na composição familiar. A hierarquia deve existir no grupo como forma de organização, para embasar respeito e ordem.
E consequentemente, respeito pelos outros não se aprende pelo sexo de quem ensina, mas pelas ações que emprega para cultivar amor ao próximo. Portanto, cultivar desde cedo e já a resolução ou novo sentido de nossos próprios conflitos poderia ser um caminho a ser pensado como possibilidade de um novo modo de acolher o diferente.




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